Há magia. Quando passamos muito tempo nas grandes cidades, observando o mundo de longe, paramos de enxergá-la. Mas há magia. E a magia, como todas as coisas que valem a pena, não está na superfície. Não se pode comer uma laranja sem primeiro descascá-la, e é justamente sob a casca das grandes cidades que ainda se encontra o sumo da magia. Mas ela também não se mostra. Prefere só dar sinais. E alguns são muito pequenos: um galo sobre uma chaminé, por exemplo.
O galo de bronze verde-pátina sobre a chaminé é a primeira coisa que se vê, não só do Casarão do Galo (como, mais tarde se descobre ser chamado), mas também da pacata cidade de Nova Albânia. Não tem pórtico, não tem placa, e, da estrada, ela não parece mais do que um vilarejo. Mas em uma colina muito bem posicionada está o Casarão do Galo, e foi por enxergar o galo do casarão que decidi, de súbito, atrasar os meus planos e entrar em Nova Albânia.
Nova Albânia é um desses lugares onde ainda há magia. Não que essa magia seja fácil de ver: talvez olhos menos atentos nem reparassem sua existência. Da rodovia, esburacada desde sempre e pouco movimentada, quase não se enxerga a cidade. Mas quando se está dentro dela, encontramos um lugarzinho cheio de verde, com ruas largas e casas de pátios grandes e cercas baixas. Tem uma igreja, uma praça e, diante das duas, a prefeitura, como qualquer cidadezinha. O que tem em Nova Albânia e não tem em nenhum outro lugar é o Casarão do Galo, e talvez por isso um discreto galo de bronze chame mais atenção do que as duas torres quase cartunescas da igrejinha.